Havia sempre um aroma convidativo no ar. Essa alegria de fazer para os outros me contagiava. Ficar na cozinha era um verdadeiro prazer. E poder ajudar era quase celestial. A colher de pau estendida com a mão de uma delas por baixo, a segurar, para não vazar, o caldo que escorria para dentro da boca, à espera, em coro suspenso, do seu veredito – “mais sal” ou “menos sal” – me colocava no Olimpo da culinária judaica.
Continuar lendoO PACTO, de Lourdes Gutierres
#celebração
Urdidura do destino. E nela, o cansaço pela busca de moradia. Quando dobraram a esquina, o alívio. A menina foi a primeira a avistar a placa na casa: aluga-se. Paredes descascadas, vidros quebrados, algumas manchas de mofo, ficava junto a um córrego. Dava para ver, ao fundo, o pomar abandonado e a bananeira com cachos maduros.
Continuar lendoConto de Natal, por Adília Belotti
#celebração
E lá vai o conto…. Era uma vez, num amanhã qualquer…uma mulher e um homem. Não, não são uma mulher e um homem, olha lá,
Continuar lendoDeclaramos natal,
de Regina Valadares
#celebração
Nos reunimos em volta da mesa, louças e talheres de minha mãe. Ela no quadro, nos olhando de lá. As travessas ganharam comidas gostosas, as taças, vinho gelado. Os cachorros, depois de pular em todo mundo, finalmente calmos. Arranhões, fios puxados, ninguém reclamou. A música do Spotify de alguém não atropelava a conversa. Ninguém gritou, conversamos alegremente, colocando em dia os muitos dias que passamos sem nos falar. Vida que segue. Depois, de barriga cheia, os presentes. Sempre bom, sempre carinhoso, como se tivéssemos escolhido esse dia pra dizer que nos gostamos e queremos que cada um ganhe algo que tenha a ver com ele. E mais depois ainda, um deita no sofá, a outro põe o pé na cadeira, a mesa, meio posta meio depenada, abriga mais conversa fiada. Não arredamos pé. Muita coisa pra contar. Lembranças divertidas. As luzinhas piscando enroladas num galho de árvore lembram o povo que é natal. Ou quase. É um natal. E da-lhe mais conversa fiada. Até que um levanta, o outro aproveita e também começa a se arrumar. Um quer uma quentinha com pernil, a outra, vegetariana, só quer a lentilha. Os que vão viajar saem de mãos abanando, só com a sacolinha dos presentes. Todos se beijam, agradecem o jantar. A Maria, responsável por grande parte, recebe merecidos elogios. Pratos empilhados, talheres separados… ai como odeio lavar talheres! A música foi-se com alguém. Apago as luzinhas frenéticas, olho os cachorros, exaustos, caídos pelos cantos, minha cama fofinha. Que noite boa. Sem fotos. Esquecemos. Só vivemos. Acredite quem quiser. Desejo a todos um natal assim, calmamente feliz.
Continuar lendoPresença,
por Paulo Akira Nakazato
#celebração
Agora eu queria ter um menino
que me mostrasse os caminhos
de todas as verdades das flores,
e me descerrasse à vista as fartas cores
que há tempos eu venho ocultando
embaixo da máscara gasta e escura.
Agora eu queria ter um menino
que me pusesse na alma um destino
de só a ele servir, sem trégua ou descanso,
como monumento ao qual eu adorasse
vinte e quatro horas do dia, mas no final,
no corpo, nenhum sinal de cansaço.
Agora eu queria ter um menino
que me acordasse de súbito feito um sino
tocando ao amanhecer quente de verão
e me pedisse que lhe desse o pão
e o fruto que eu, por descuido e medo,
havia negado a mim mesmo quando pequeno.
Lilian Kogan e Chanukah, a Festa das Luzes
#celebração
Certo dia perguntaram ao sábio talmúdico Hillel, “por que não se poderia acender já nos primeiros dias todas as velas?”, ele observou que o ser humano tem, nesse gesto diário por oito noites, a oportunidade de trazer a energia do genuíno, daquilo que é verdadeiro, com serenidade, um dia após o outro; uma noite após a outra, em meditação.
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