Clube dos Escritores 50+Adolfo Leirner Ambulância

A ambulância, conto de Adolfo Leirner

Sou Daniel. Médico socorrista. Médico de urgências. De vidas penduradas no fio invisível do tempo.
Hoje é meu plantão na ambulância. E o céu de São Paulo parece anunciar que também não terá um plantão fácil. Cinzento, zangado. O trânsito na ponte Cidade Jardim não anda. O horizonte guarda um sol trêmulo, lutando para não se afogar na tempestade que se aproxima.

O rádio da ambulância chiando. O limpador de para-brisa em ritmo de metronomo cardíaco. As buzinas, indiferentes, compondo aquela sinfonia caótica que todo socorrista conhece.

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Clube dos Escritores 50+ Eunice Maciel Melhores amigas

MELHORES AMIGAS, por Eunice Maciel

O velório era o the end daquele filme meio drama meio horror que elas tiveram que assistir e que escancarava o fato de que a primeira da turma se fora deixando a pergunta no ar: quem será a próxima?

Esticaram o enterro num restaurante em Botafogo antecipando a primeira quarta-feira do mês e, como sempre, botaram a conversa em dia. Impressionante o tanto de novidade que se arruma em trinta dias – nesse caso, em vinte e cinco. Falaram de tudo, menos da Alice, afinal, o assunto já estava mais do que esgotado. Chamava atenção das outras mesas aquelas cinco senhoras trajando preto e branco conversando na maior animação, e foi apenas durante a sobremesa que uma delas traduziu em palavras o pensamento de todas. – Como vai ser quando chegar a nossa hora?

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Clube dos Escritores 50mais José Carlos Peliano O lago que para no ar - Imagem criada por AI

O lago que para no ar

Lá estava, um a mais na procissão de dias, acocorada, cotovelos nos joelhos, mãos apoiando a cabeça, parecia corcova de cupinzeiro, imóvel, olhar fixo, onde? Nem a respiração preguiçosa lhe movia, tampouco o friozinho conseguia tirar dela alguns arrepios, manhãzinha bem cedo, somente ela e alguns quero-queros trocando passos pela beira do lago, encoberto por uma larga e rala cobertura, qual algodão doce.

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Clube dos Escritores 50+ Eunice Maciel NATAL NO PANTANAL Imagem gerada por IA

#históriasdeNatal
Um conto de Natal no Pantanal, por Eunice Maciel

Me conta uma história de papai Noel? – pediu João à sua mãe. Catarina, percebendo a chance de ouvir uma boa história, veio sentar-se junto aos dois. Era noite, e a família encontrava-se num hotel-fazenda na região do Pantanal, onde passaria o Natal. Tinham tido um dia maravilhoso, ao ar livre, e as crianças estavam fascinadas pela paisagem diferente de tudo que conheciam. Viram, juntos, vários tipos de pássaros, se encantaram com as araras azuis, andaram a cavalo, e bateram os pés contra a madeira do deque na beira do pântano para fazer emergir cabeças de jacarés atraídos pela vibração produzida pelas batidas.

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Clube dos Escritores 50+ Histórias de Natal Bettina Lenci A lista

#históriasdeNatal
A LISTA, por Bettina Lenci 

Tomaria seu café. Em pequenos goles, usufruiria do suco, alternando-o com mordidas na torrada coberta com geleia de amora. Leria o jornal, depois faria a lista dos presentes a serem providenciados para a noite de Natal. Eis que um dos seus dois filhos irrompe na sala, lhe dá um beijo de raspão e pergunta: Mãe, são dez horas. Você vai sair de pijama? Já estou indo. Beijo!

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Clube dos Escritores 50+ José Carlos Peliano O bolso

O bolso, de José Carlos Peliano

Entrou apressado na garagem, chegou à porta do carro, enfiou a mão esquerda no
bolso da calça para retirar a chave, entre as chaves do escritório, a de casa e o abridor do portão automático, achou-a, pegou-a, ia retirá-la, algo a travou, percebeu que a mão não conseguia sair, achou que tinha engordado e a calça não dava mais conta de seu corpo da cintura para baixo.

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Clube dos Escritores 50+ José Carlos Peliano Medo do escuro/ Imagem criada por IA

#históriasparacontarparaosnetos
A luz do escuro, conto de José Carlos Peliano

A lâmpada acesa do corredor trazia seus braços até o aconchego da cama de Clarita dando-lhe a proteção diária de todas as noites. Temia o escuro e não dormia de outro jeito, de jeito nenhum, nem lhe oferecendo estórias, de Alice, da Caronchinha, de Saci, da Vaca Vitória, do Peter Pan, nem chocolate quente, televisão sobre a cômoda, um presentinho ou outro, bom de fato, ou sem fato, nada. Nada a demovia do temor de ficar sozinha no escuro da noite em seu quarto, mesmo protegida pelas cobertas ou seus pais, amigos, bichos de pelúcia.

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