Oito filhos. De quatro mulheres diferentes. Quem dos meus amigos tem oito filhos? Dos meus conhecidos? Conhecidos dos meus amigos? Nenhum. Nos dias de hoje
Continuar lendoOs olhos verdes de Copacabana,
crônica de Luciano de Castro
finalista do concurso Ruth Guimarães, da UBE
Que os cronistas vivem experiências surreais, isso é certo. Alguns as revelam, outros as escondem. Numa crônica de 1934, Humberto de Campos relatou a espirituosa conversa que tivera com um cãozinho vadio no Largo do Machado. Bem antes disso – no longínquo 1892 — Machado não conversou, mas entendeu perfeitamente a linguagem dos burros que puxavam o bonde em que viajava. Os dois muares especulavam sobre o destino que teriam com a chegada dos bondes elétricos. Isso mesmo, leitores: os beneditinos do cotidiano têm a faculdade de se comunicar com os bichos. É raro, mas acontece.
Continuar lendoO bolso, de José Carlos Peliano
Entrou apressado na garagem, chegou à porta do carro, enfiou a mão esquerda no
bolso da calça para retirar a chave, entre as chaves do escritório, a de casa e o abridor do portão automático, achou-a, pegou-a, ia retirá-la, algo a travou, percebeu que a mão não conseguia sair, achou que tinha engordado e a calça não dava mais conta de seu corpo da cintura para baixo.
Devaneios poéticos, um dia depois de Finados,
por Eder Quintão
Poesia é vaso cheio
De elocubração vazia?
Ou elocubração cheia
De sentimento vazio?
Seria ela de emoções contidas
E lindas imagens que induzem
Inebriando se cantadas ou lidas
Ou são enganos que seduzem?
LINHA DE PASSE, poema de Zulmara Salvador
Não passa a dor da mãe sem o filho.
A raiva do inimigo,
não passa.
Não passa a fome do mendigo.
O calafrio do febril,
não passa.
Não passa o medo do escuro.
Não passa a asa da borboleta pelo casulo quebrado.
O poeta morreu,
homenagem a Antônio Cícero
por Paulo Akira
O poeta morreu.
O homem no carro não sabe.
As pedras se reviram.
Quietas, aguardam: pra onde nossos significados?
#históriasparacontarparaosnetos
Alice no País da Alice
Era finalzinho do dia. Recostadas em uma imensa árvore, eu e Alice liamos a história de Alice no País das Maravilhas. Meio sonolentas de tantos afazeres do dia, quase adormecendo, vimos correr na nossa frente o coelho maluco com seu despertador na mão dizendo estar atrasado. Olhamos arregaladas uma para a outra e lá pelas tantas, não sabemos quando, começamos a segui-lo.
Continuar lendo#históriasparacontarparaosnetos
A luz do escuro, conto de José Carlos Peliano
A lâmpada acesa do corredor trazia seus braços até o aconchego da cama de Clarita dando-lhe a proteção diária de todas as noites. Temia o escuro e não dormia de outro jeito, de jeito nenhum, nem lhe oferecendo estórias, de Alice, da Caronchinha, de Saci, da Vaca Vitória, do Peter Pan, nem chocolate quente, televisão sobre a cômoda, um presentinho ou outro, bom de fato, ou sem fato, nada. Nada a demovia do temor de ficar sozinha no escuro da noite em seu quarto, mesmo protegida pelas cobertas ou seus pais, amigos, bichos de pelúcia.
Continuar lendoO túnel, crônica de Lourdes Gutierres
Lembrei-me do plebiscito da Noruega quando soube da construção de um túnel na Vila Mariana. Não há termos de comparação, afinal o que deu errado por aqui? Por que o povo é alijado de decisões que lhe dizem respeito? Penso na Ágora da Grécia antiga, mas isso também é sonhar demais, reconheço. Tapumes encobrindo o canteiro central da avenida Sena Madureira chamaram atenção dos moradores. Afinal o que está acontecendo, um vizinho indagando o outro. Descobre-se que um antigo projeto começou a ser implementado. Em meio à perplexidade, moradores resolvem organizar o protesto: não ao túnel.
Continuar lendoCAZUZA, 7/7/77, crônica de Luciano de Castro
Um editor certa vez me disse que um bom texto começa com um bom título. Eu não sei se será o caso desta crônica (nem pelo título, nem pelo sumo) mas, de todo modo, o nome do artista famoso e a sequência de 4 setes foram empregados deliberadamente como artimanha pra chamar a atenção do leitor. Só que o engodo tem pernas curtas e já preciso revelar que não tratarei de fato extraordinário, envolvendo o roqueiro Cazuza, que tenha a ver com a numerologia do sete. O assunto aqui é pessoal e memorialístico.
Continuar lendoO festival literário e as pedras de Paraty, crônica de Sylvia Loeb
Cheguei em Paraty no segundo dia da FLIP, depois de seis horas de viagem, em um final de tarde chuvoso. As pedras brilhantes, arredondadas por séculos de tráfego de carros de boi, cavalos, burros e carroças causam admiração e temor. O conhecido “pé -de- moleque”, construído no século XVIII, durante o desenvolvimento do ciclo do ouro.
Continuar lendoSetembros, por Carlos Schlesinger
Pois é, esse assunto era para Setembro e já estamos no começo de outubro. Mas tem coisa que permanece na cabeça, até virar texto e não vou dar aos espíritos obsessores o prazer de me fazer esperar 11 meses e três semanas para ser politica e literariamente e correto. Então, nos primórdios de outubro, vou falar do que desejava ter falado em setembro.
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