Regina Valadares, A mão

A mão, de Regina Valadares

Ela não tinha forças pra sair da cama.

Quanto mais decidir o que comer ou mesmo pegar água. Lembrou com saudade da mão da mãe sobre sua testa certificando-se que não tinha febre. Lembrou como era bom ser cuidada. Ter certeza de que ficaria boa porque assim aquela mão prometia. Muito lentamente buscou um termômetro na gaveta da mesinha de cabeceira. Não achou. Quando os filhos eram pequenos era dela essa mão curadora, essa certeza de que estavam bem cuidados. Agora nem termômetro tem mais. Achou que nunca precisaria. O corpo mole colado no colchão. As crises de tosse envergando a coluna. Não, não estava morrendo. Disso ela sabia. Só não tinha ninguém pra cuidar dela. Do entra e sai da casa cheia só ficaram os móveis. Os mesmos desde que nasceu. Ela admira o grande armário diante da sua cama. O armário da mãe, a cama da mãe, hoje tudo dela. Menos alguém para cuidae dela. Menos aquela mão suave sobre a testa assegurando que tudo vai ficar bem.

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