Senhor/dai-me um pé carregado
de esperanças maduras/dai-me o caminho da casa de minha vó/dai-me o pedaço de inocência que esqueci lá em Minas/dai-me um verso de Adélia Prado pra eu me aconchegar e chorar
Senhor/dai-me um pé carregado
de esperanças maduras/dai-me o caminho da casa de minha vó/dai-me o pedaço de inocência que esqueci lá em Minas/dai-me um verso de Adélia Prado pra eu me aconchegar e chorar
Poderia fazer uma coleção interminável de canecas e xícaras. /
Descobri que não gosto de quadros sem título./
O minimalismo não me afeta./
Prefiro os paradoxos da arquitetura bruta/ brocada de pensamento barroco.
Em uma tarde preguiçosa decidi comer uma mixirica. Ou mexerica? Não importa! Comecei a descascá-la e me percebi admirando sua cor, seu brilho, a organização dos gomos e a facilidade para tirar sua casca. Pensei: é um belo design, teria sido criado por Deus?
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A sabedoria dos velhos chega não porque eles são mais experientes. Ela aterriza porque estão mais cansados.
Não cansados da vida, cansados de aprender sobre ela.
Às 12:20 a luz do sol bate inclemente, fazendo com que a sombra flutue deslocada do corpo, que se move com hesitação. A ilusão da luz faz acreditar que são quatro as pernas, em vez das duas, delgadas, que tentam escalar a parede lisa. Ela tenta e cai, tenta e cai…
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Poesia é o que só os poetas sentem/ Ou o que eles sentem é só ela?/Poesia é o que o poeta lembra/Ou o que do poeta se lembra?/Poesia é voz de poeta/Ou poeta é voz dela?/Poesia é chorar a perda/Ou perder-se a chorar?/Poesia é mar de lágrimas sentidas/Ou lágrimas sentidas ao mar?
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Você fechou os olhos há pouco mais de duas horas, e, segundo meus amigos rabinos, sua alma está por aqui, começando a caminhada para o Gan Éden. Todos já se foram, e rapidamente. Agora, totalmente só, encontro apenas você para me fazer companhia.
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Com incrível facilidade a autora se cola na pele de outras pessoas (gente que ela vai buscar sabe deus onde). E absorve, canibal, as suas gramáticas estrangeiras. Às vezes, nos melhores casos, a autora desaparece (sem deixar vestígios!). Fica somente o personagem, ali, sozinho, errante, no meio da página.
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A conexão de Neruda com Goiás seria sacramentada por algo ainda mais forte, um presente vivo e emplumado que recebera de uma escritora goiana: um vistoso corrupião. De toda a avifauna brasileira, o corrupião ou sofrê é uma das espécies mais interessantes, tanto pela belíssima plumagem como pelo canto melodioso, mas também pelo comportamento.
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Na primeira infância, as marchinhas do passado, as meninas vestidas de bailarina, com purpurina no rosto. Um cheiro de lança-perfume no ar, as bisnagas douradas Rodouro, então consideradas inofensivas, as serpentinas multicoloridas, as bandas mambembe do clube tocando Mulata Bossa Nova
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Amo tua palavra crua/ Teus versos com gosto de chão/ Tua prosa decidida, arcaica, vigorosa/ Amo tua palavra reta, sertaneja, cheirando a flores do mato/ Tua palavra fácil, água corrente, limpa e ligeira sobre as pedras do riacho
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Apenas um sonho, nada mais. Foi o que a mãe de Ofélia afirmara após ouvir seu relato ao despertar. Ela preferia acreditar nisso, entretanto a dúvida persistia: será mesmo? Quando na noite seguinte acordou sobressaltada com a mesma cena, entendeu não ser aquilo mera coincidência, teria de buscar o significado daquele sonho: um homem sem cabeça pedindo para que lhe acendesse uma vela…
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