Ela parece dormir, mas os dedos das mãos se movimentam de forma ritmada. Observo que nela mudanças ocorrem de maneira rápida. Há pouco tempo, apoiada em meu braço, caminhávamos até o jardim da casa. Por lá, canteiros coloridos: rosas, azaleias; de repente, aparecia algum beija-flor se nutrindo no hibisco – olhe, olhe, que lindo! Breve encantamento, logo sumia sem deixar rastros.
Continuar lendoDos leques e ventos da memória, por Lilian Kogan
Recentemente num curso sobre a Princesa Isabel, a historiadora que nos dava aula mostrou um slide com um leque feito pela própria princesa. Na ponta de cada vareta, o rosto pintado de algum membro da família.
Se o leque fosse da minha avó paterna, alguns retratos estariam decapitados. Ela nunca aceitou a separação da filha. Dizia que ela merecia ser melhor tratada pelo ex-marido. Enquanto tia Rosa seguia tranquilamente sua vida de desquitada, minha avó ainda esbravejava.
Continuar lendoUma breve arqueologia do livro e o meu alumbramento, por José Carlos Peliano
Segundo essa interpretação, portanto, cada e todo livro é oferecido e trazido pela memória aos becos e ruelas da recordação e/ou da imaginação povoadas pela vida afora. Se vai ser levado ao público ou não depende de cada um. Seguindo adiante, vive-se dessa forma numa monumental biblioteca universal onde é guardada a memória expressa ou não de toda a existência da vida humana e do meio ambiente.
Continuar lendoA Luz, a Sombra e o Tempo, por Carlos de Castro
Ganha largueza o panorama visto do alto. Vive-se um “aquecimento” do
tempo e, intuitivamente, percebemos o aumento da velocidade com que gira o
dia-a-dia em nossa pequena megalópole. Apesar disso, o tempo por vezes relaxa, espraia. Aqui e ali dá “um tempo” para si mesmo. Como pode?
Impressões machadianas, de Eder Quintão
Todos temos nossas impressões machadianas. Como a minha. Quando trabalhava na Rockefeller University, em Nova York, na década de 1960, conheci a esposa de um estudante que se apresentou numa festa como sendo neta de Thomas Mann. Estudava literatura. Perguntou-me se conhecia o maior escritor da língua portuguesa, um tal “Mequeido”. Espantou-se muito quando respondi que não conhecia. Prudente, pedi que soletrasse “Mequeido”: era M-A-C-H-A-D-O!
Continuar lendoA MESA, A COSTELA DE ADÃO, A ZONA CEGA, O PERFEITO
reflexões sobre livros e filmes de Bettina Lenci
Não sei escrever a não ser sobre uma superfície plana. Antes do
computador, escrevia em cadernos sobre uma mesa. Hoje a
inspiração depende do meu computador que não se encontra ao
alcance do texto que brilhantemente se escreve na minha cabeça.
…por que escrevemos?
#reflexõesmaduras
de Zulmara Salvador
O que fez Elizabeth Bishop escrever sobre tantas, tantas coisas e perdas? Por que escreveu?
Por que Mary Ann Evans se fez George Eliot só para escrever? Por quê?
Carolina Maria, que catava lixo, escreveu. Por quê?
E as irmãs Brontë?
J. K. Rowling inventou Herry Potter. Que bruxaria a fez escrever?
Hoje eu chorei, por Regina Valadares
Fazia tempo que não chorava. Muito tempo. Parei diante do quadro da minha mãe, aquele quadro que tem sido minha única mãe desde os meus 20 anos, e chorei. Olhei fundo nos olhos dela e vi os meus, tristonhos e ao mesmo tempo quase alegres. Solitários. Eu assim tão só, pensei na música. E chorei. Bem baixinho.
Continuar lendoO horror do horror
(tributo às vítimas das guerras contemporâneas),
por José Carlos Peliano
Meus ouvidos não escutam as explosões de bombas, gritos, gemidos e choros/meus olhos sequer se enfumaçam ou se entulham de escombros, mutilações, fumaças tóxicas/meu nariz escapa do cheiro e do pavor da morte/e da lenta e torturante agonia dos destroços humanos
Continuar lendoReflexões judaicas de Natal, por Carlos Schlesinger
E de repente, sempre de repente, chega o Natal que estava ali escondidinho. Os sintomas começam de forma leve, uma anúncio de TV aqui, uma lâmpada acolá. E a coisa vai aumentando avassaladoramente, entre ofertas de presunto tender em supermercado e as fieiras de lâmpadas na vizinhança. Um doce pânico começa a se instalar. CLIQUE PARA OUVIR AS MÚSICAS NO FINAL DO POST
Continuar lendo#VELHOSemscripts
Flip, Paraty 2023 Lugar de múltiplas falas
Casas caiadas, portas e janelas verdes e azuis intensos. Pedras escravaspavimentam um caminho de penosa lembrança: o trabalho forçado. Pedrascarregadas nas costas da negritude que
Continuar lendo#reflexões
Toda história tem sua moral
por Eder Quintão
Acompanhem Eder Quintão navegando à velocidade da luz por átomos, elétrons e buracos negros…everything, everywhere, all at once, tudo recheado com o humor agudo do nosso Eder e embrulhado em cósmica perplexidade….
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