Era um tempo em que tinha mais mato, mais florestas, onde moravam muitos bichos. Tinha até bicho que os homens nem conheciam. É verdade! Era um tempo em que nem todos haviam sido inventados. Alguns bichos estavam em fase de experiência.
É, e quando os bichos estão sendo inventados é muito importante que eles arrumem algum jeito para se defender. Uns podem virar uma bola, como o tatu, e também o pequeno tatu-bolinha. Outros tem casco duro como a dona tartaruga. Alguns aprendem a correr muito, como a gazela, outros a dar coices fortes, como o cavalo. Tem até o senhor gambá, que solta um cheirinho bem ruim….
De repente apareceu um bichinho que tinha inventado um jeito novo de se defender: ele ficava elétrico! A dona Cobra, que se achava muito esperta, logo tentou atacar aquele bicho e se deu mal. Levou um tremendo choque e nunca mais chegou perto dele.
Foi daí que o bichinho ficou conhecido na mata como o “coisinha elétrico”.
– “Coisinha elétrico”, veja só. Não gostei nada nada. Afinal todos os bichos têm um nome e eu não quero ficar sendo um “coisinha”. De jeito nenhum.
Mas o que ia fazer, ele não conseguia nem conversar com os outros. Todo mundo ficava longe dele por medo de levar choque. Sem saber como mudar a situação, o “coisinha elétrico” ia levando a vida meio tristonho, sempre sozinho.
Um dia ele estava na sua toca espiando a caverna onde viviam os bichos-homens e viu duas crianças que brincavam com umas pedrinhas. Elas davam muita risada e o “coisinha” começou a achar engraçado também. Aí teve uma ideia: arrumou umas pedrinhas brilhantes que tinha descoberto dentro de sua toca e começou a levar para perto das crianças. Uma delas o viu e logo gritou:
– Olha, que bichinho bonito. Ele está trazendo umas pedrinhas pra nós!
Nunca ninguém o tinha chamado de bonito. Aquilo lhe fez tão bem que aos poucos ele foi chegando mais e mais perto das crianças. Uma delas então resolveu acaricia-lo. O “coisinha” teve um reflexo rápido e conseguiu desligar seu sistema elétrico. Claro, ele gostava das crianças, não queria que elas tomassem choque.
E assim aquele bichinho aprendeu a viver de um outro jeito, ficou mais ligeiro e atento e pode desligar para sempre sua defesa elétrica. Seu pelo ficou até mais lisinho, de tanto carinho que recebia das crianças. Logo os outros bichos começaram a perceber sua mudança e ele pode fazer novas amizades.
E foi a velha dona Tartaruga, do alto de sua sabedoria, quem o batizou e acabou para sempre com aquela história de “coisinha elétrico”.
– Você vai se chamar Fuinha. Combina com a sua cara.
E o Fuinha gostou muito disso e até aprendeu a virar bicho de estimação dos homens.
Que saborosa fábula, Carlos. Os homens, eternos meninos, agradecem.
Obrigado amigo. Que tal arriscar-se também nesse mundo das eternas crianças? Abraço
Ah, que delícia de história. Vou ler para Alice
Lilian, que coincidência: minha netinha mais nova também se chama Alice. Ainda é muito pequena (9 meses). Daqui a pouco vai dar para começar a contar histórias para ela. Me arrisquei nessa historinha justamente pensando nela. Abraços
Fuinha.. Bonito, Carlos!
Obrigado Zulmara, abraço
Que história gostosa, Carlos. Juro que pensei tratar-se de um vaga-lume.
Adorei sua fuinha, Carlos.
O que faz uma fuinha? Alguém sabe?
Adorei a história. Achei-a bem singela e gostei muito da menção a importância do amor ( que consegue fazer grandes transformações). Também fiquei bem intrigada com o fato de alguns bichos estarem em fase de experiência… Será que daria para mandar o bicho
Homem para uma completa revisão?
No que me diz respeito, eu só conheço um “coisao elétrico”. Vive na água, da choques que podem chegar a 860 volts e tem cerca de 2 metros.O “coisao elétrico “se chama Muçum de orelha e eu o conheci na Amazônia. Tem vários outros nomes, mas andaram me falando que ele é mais conhecido sob o termo tupi poraquê . Talvez um dia ele resolva levar umas pedrinhas as crianças para deixar de ser tão temido.