A criatura acima sou eu, psicobélica, personagem da família dos atravessadores. Macia ao toque e nem tão cheirosa, odeio água, pois banhar-me rouba-me a pele, a tatuagem. Desapareço. Lembram-se? Sou invisível. Geralmente.
Continuar lendo
A criatura acima sou eu, psicobélica, personagem da família dos atravessadores. Macia ao toque e nem tão cheirosa, odeio água, pois banhar-me rouba-me a pele, a tatuagem. Desapareço. Lembram-se? Sou invisível. Geralmente.
Continuar lendoAté que chega o mês de agosto, mês da queimada. Acero para o fogo não passar para as fazendas vizinhas, pessoal saindo para todos os lados da fazenda, todos prontos cercando a área seca e, a um sinal, tacar fogo! De longe, bebê no colo, vejo tudo parada no vão da porta da cozinha.
Continuar lendoMinha mãe, ops! desculpem, mamãe não admitia que eu e meu irmão, a chamássemos de outra forma que não mamãe. Casou-se muito jovem com 16 anos, aos 18 já tinha os dois filhos com diferença de apenas 20 meses. Jovem, bonita e muito vaidosa, acho que não queria que os filhos crescessem para não sentir o envelhecer. Filha de fazendeiros das antigas tinha o hábito de mandar e nunca admitir erros
Continuar lendoUm amigo meu, professor de biologia, me assegura que entende tudo da
língua dos pássaros, como por exemplo a dos corvos, animais muito
inteligentes e loquazes. Assumo que tenha me contado a verdade pois é um
bom cientista e ateu, e não acredita em disco voador de outro planeta. Contou
que ouviu essa conversa de um corvo da floresta com um corvo conterrâneo
que nunca saíra dela, mas que desejava muito conhecer como vivem os seres
bípedes nas cidades
“Alguma coisa acontece no meu coração”…sim, para quem chegou agora, existiam encantos no Centro de São Paulo: as grandes lojas, o comércio diversificado e especializado, as livrarias, as lojas de discos e de equipamentos de som. Tudo isso atraía nossa curiosidade, mas havia dois pontos que se destacaram na nossa vida dos jovens universitários: os chopps e as meninas.
Continuar lendoEla parece dormir, mas os dedos das mãos se movimentam de forma ritmada. Observo que nela mudanças ocorrem de maneira rápida. Há pouco tempo, apoiada em meu braço, caminhávamos até o jardim da casa. Por lá, canteiros coloridos: rosas, azaleias; de repente, aparecia algum beija-flor se nutrindo no hibisco – olhe, olhe, que lindo! Breve encantamento, logo sumia sem deixar rastros.
Continuar lendoRecentemente num curso sobre a Princesa Isabel, a historiadora que nos dava aula mostrou um slide com um leque feito pela própria princesa. Na ponta de cada vareta, o rosto pintado de algum membro da família.
Se o leque fosse da minha avó paterna, alguns retratos estariam decapitados. Ela nunca aceitou a separação da filha. Dizia que ela merecia ser melhor tratada pelo ex-marido. Enquanto tia Rosa seguia tranquilamente sua vida de desquitada, minha avó ainda esbravejava.
Continuar lendoFoi hoje notícia
De muita tristeza
Morte atropelada
Na esquina, o lar
Onde foi achada
Famosa princesa
Autoproclamada
Tenho um rio dentro de mim. Suas águas percorrem cada reentrância do meu corpo, é o grande meio de transporte de tudo que ele necessita:
Continuar lendoLá se ia o tempo do afogar-se em sentimentos que, de tão fortes, o levavam ao fundo, enquanto se debatia, procurando emergir, sem êxito. Então, afogava-se e novamente se afogava, até que fugia de qualquer coisa que sentisse, só para que não lhe trouxesse o afogamento, a falta de ar.
Já lá ia o tempo pensou, satisfeito.
Que bom que já lá ia.
Era uma lágrima
Nascida sofrendo
Desde sua partida
Logo se perdendo
Toda ressequida