Clube dos Escritores 50+ Adolfo Leirner Futebol

Futebol: foi-se o tempo,
crônica de Adolfo Leirner

Foi-se o tempo. Quando garoto ia ao Pacaembu todos os domingos. Às vezes, também aos sábados. Se estivesse de férias no Guarujá, atravessava a balsa para assistir ao jogo em Vila Belmiro. Antes de sairmos para o estádio, eu, meu irmão e, às vezes, os primos, fazíamos o aquecimento batendo bola defronte da casa ou na pracinha. A rua era território da molecada, lá se podia jogar à vontade, e ir desacompanhado ao estádio era coisa natural.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50 mais Carlos Schlesinger Livaldo

O craque e o rapaz,
crônica futebolística de Carlos Schlesinger

– Boa tarde, garoto, disse Valido. Eu tenho um encontro com o Dr Milton, às 14 horas. Fascinado pela presença de seu ídolo, o jovem confirmou o horário, pediu que aguardasse um pouco e pespegou-lhe a indagação atrevida:
– O senhor é o Valido, do Flamengo, certo?
-Sim, respondeu o craque, que, em seguida recebeu a segunda pergunta:
– Posso saber uma coisa?
– Fala, garoto.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Lidia Izecson China

CHINA (meu olhar),
crônica de viagem de Lídia Izecson

Chegar na China por Pequim é assombrar-se. É entrar em uma modernidade ainda não vivida por nós e tb mergulhar em uma cultura com mais de 5 mil anos. Foi essa a porta que se abriu para mim e eu entrei.
Sem conseguir ler sequer uma placa e me sentindo também muda (eles ainda são monoglotas), senti que eu precisava de ajuda. Como esse é o Ano do Dragão, resolvi segui-lo. Vamos, ele me disse, não tenha medo.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Bettina Lenci Euclides

O Ovo da Serpente, crônica de Bettina Lenci

O fato ocorreu em nosso território: no Nordeste brasileiro. Um fato histórico. Um equívoco que pode ser interpretado, severamente, sob o olhar ético. No século passado, a recém declarada República empreende uma guerra contra seu próprio povo quando da Batalha de Canudos (1897). Ao Euclides da Cunha descrever o episódio desta guerra infame, ele embute nas entrelinhas do texto o desdém, o desconhecimento que o Brasil tem do ethos e da moris.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Leo Forte Suspiro

Suspiro, crônica musical de Leo Forte

Não sei se pelos últimos acontecimentos, ou pela minha idade avançada, recordei uma conversa com minha neta.
Ela tinha oito anos e estava na fase de achar “vovô sabe tudo”. Curiosa como sempre foi, fez uma pergunta peculiar para uma criança:
– Vô, o que é suspiro?
– Ora, querida, é aquele doce, doce, doce, que sua vó faz e sua mãe só deixa você comer um pouquinho.
– Não, vô, não o doce, aquele outro negócio que a gente sente, sei lá…

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Lourdes Gutierres Túnel

O túnel, crônica de Lourdes Gutierres

Lembrei-me do plebiscito da Noruega quando soube da construção de um túnel na Vila Mariana. Não há termos de comparação, afinal o que deu errado por aqui? Por que o povo é alijado de decisões que lhe dizem respeito? Penso na Ágora da Grécia antiga, mas isso também é sonhar demais, reconheço. Tapumes encobrindo o canteiro central da avenida Sena Madureira chamaram atenção dos moradores. Afinal o que está acontecendo, um vizinho indagando o outro. Descobre-se que um antigo projeto começou a ser implementado. Em meio à perplexidade, moradores resolvem organizar o protesto: não ao túnel.

Continuar lendo

Um dia, crônica de Bettina Lenci

O céu violentado de cinza esparramou-se nos meus pulmões, as partículas de violência alojaram-se na garganta e a respiração tornou-se curta. Sim, claro, em uníssono, a razão deste efeito devastador nos terráqueos é divulgada e aceita como suficiente: ninguém se mexe para impedir a queima das florestas! Eu não avisei? Dizem, após a exclamação. Mas por mais que esteja inclinada a colocar minha colher nesse caldo grosso de fuligem, não é este o assunto de hoje, tampouco a sustentabilidade do planeta, nem as ameaças de fim do mundo e menos ainda assumir como humana que a culpa é só minha!

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Lilian Kogan Rosh Hashaná

EU NÃO CONSIGO, por Lilian Kogan

Queria falar sobre o novo ano que se inicia para nós judeus. Procuro dentro de mim fagulhas de esperança para traduzir tudo que carrego na minha genética espiritual. Mas não consigo honrar em mim o júbilo do legado dos meus antepassados porque só encontro dor no lugar que deveria ser de comemoração. Meus olhos querem ver a beleza da tradição do meu povo, que fez da dor um percurso de resistência e resiliência. Mas meu povo sofre e, ao contrário do que muitos imaginam, queremos viver em paz. Paz com os vizinhos do mundo todo. Há humanistas de peso entre nós. Em Israel, conheci alguns que tocaram meu coração para sempre.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Leo Forte

Correto…incorreto, por Leo Forte

Minha mãe, ops! desculpem, mamãe não admitia que eu e meu irmão, a chamássemos de outra forma que não mamãe. Casou-se muito jovem com 16 anos, aos 18 já tinha os dois filhos com diferença de apenas 20 meses. Jovem, bonita e muito vaidosa, acho que não queria que os filhos crescessem para não sentir o envelhecer. Filha de fazendeiros das antigas tinha o hábito de mandar e nunca admitir erros

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Lilian Kogan Leques

Dos leques e ventos da memória, por Lilian Kogan

Recentemente num curso sobre a Princesa Isabel, a historiadora que nos dava aula mostrou um slide com um leque feito pela própria princesa. Na ponta de cada vareta, o rosto pintado de algum membro da família.

Se o leque fosse da minha avó paterna, alguns retratos estariam decapitados. Ela nunca aceitou a separação da filha. Dizia que ela merecia ser melhor tratada pelo ex-marido. Enquanto tia Rosa seguia tranquilamente sua vida de desquitada, minha avó ainda esbravejava.

Continuar lendo