Clube dos Escritores 50+ Clemari Marques Dia de Morrer

TALVEZ EU MORRA HOJE, poema de Clemari Marques

Talvez eu morra hoje…
Talvez não.
Talvez o avião caia no meio de uma tempestade
E junto com raios, trovões e toneladas de chuva,
Talvez caiam por terra todos os meus projetos, sonhos, esperanças, expectativas, desejos…
Sim!
Enquanto estamos vivos temos projetos, sonhos, esperanças, expectativas e também desejos!
Não importa a idade.

Talvez eu morra hoje
Mas morro em paz
No meio de um voo,
Que é a forma ideal de morrer.
Pertinho do céu…
Imersa nos sonhos.
Mas como deixar para trás os desejos?
Talvez não!

Talvez eu morra hoje,
Mas morro encantada.
Com a vida,
Com o mundo,
Com o tanto de seres humanos especiais, que encontrei na caminhada. E com os mais do que especiais…
Ah! Os mais que especiais…
Talvez não!

Talvez eu morra hoje,
Sem nada a lamentar.
Plantei árvores,
Escrevi livros,
Tive filhos.
Estou em paz.
Mas não satisfeita.
Ainda quero mais! Muito mais!
Sim, em qualquer idade podemos e devemos querer mais.
Talvez não!

Não! Certamente não vou morrer hoje.
Não posso morrer hoje!
Tenho abraços engatilhados no peito,
gargalhadas carregadas de prazer,
beijos de amor pendurados nos lábios ainda sedentos,
prontos para serem colhidos.

Não posso morrer hoje!!!
Talvez não!

Nunca fui de profecias.
Nem acreditei nelas.
Não há de ser hoje que vão se realizar.
Se é para algo se realizar,
Que sejam meus sonhos.
Talvez não!

Só pensei nisso porque estou chacoalhando num voo,
com chuva forte,
ventos,
raios
e trovões.

E todas essas sensações de vida pulsante, estão chacoalhando também.
Dentro de mim.
Conforme explodem raios no céu aqui de cima,
Estão explodindo minhas urgências a serem resolvidas lá embaixo,
Na terra.
No mar
No fogo
Na água…
Preciso voltar!
Talvez não?

Por via das dúvidas,
Estou sempre preparada.
Malas feitas para a eternidade.
Malas feitas para a próxima viagem
Em busca do hoje,
do agora,
de cada momento,
antes que tudo se acabe.

Tiro o máximo de cada experiência,
Crio o máximo de expectativas para as próximas.
E se as próximas não vierem,
Contento-me com o que tenho em estoque.
Só que sou muito gulosa e quero sempre mais.

Então melhor não morrer hoje.
Definitivamente hoje não!

Tomara que o tempo ajude.
Tomara que o voo se estabilize,
Tomara que o pouso seja tranquilo e certo.
Tomara que eu viva até os cem.

Seguirei esperando a próxima surpresa que a vida vai me oferecer.
Até encontrar a surpresa final,
Que não seja hoje.
Sempre amanhã.
Talvez não…

4 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *