Clube dos Escritores 50+ Leo Forte Suspiro

Suspiro, crônica musical de Leo Forte

Não sei se pelos últimos acontecimentos, ou pela minha idade avançada, recordei uma conversa com minha neta.
Ela tinha oito anos e estava na fase de achar “vovô sabe tudo”. Curiosa como sempre foi, fez uma pergunta peculiar para uma criança:
– Vô, o que é suspiro?
– Ora, querida, é aquele doce, doce, doce, que sua vó faz e sua mãe só deixa você comer um pouquinho.
– Não, vô, não o doce, aquele outro negócio que a gente sente, sei lá…

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Clube dos Escritores 50+ Luciano de Castro Olhos verdes png

Os olhos verdes de Copacabana,
crônica de Luciano de Castro
finalista do concurso Ruth Guimarães, da UBE

Que os cronistas vivem experiências surreais, isso é certo. Alguns as revelam, outros as escondem. Numa crônica de 1934, Humberto de Campos relatou a espirituosa conversa que tivera com um cãozinho vadio no Largo do Machado. Bem antes disso – no longínquo 1892 — Machado não conversou, mas entendeu perfeitamente a linguagem dos burros que puxavam o bonde em que viajava. Os dois muares especulavam sobre o destino que teriam com a chegada dos bondes elétricos. Isso mesmo, leitores: os beneditinos do cotidiano têm a faculdade de se comunicar com os bichos. É raro, mas acontece.

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Clube dos Escritores 50+ José Carlos Peliano O bolso

O bolso, de José Carlos Peliano

Entrou apressado na garagem, chegou à porta do carro, enfiou a mão esquerda no
bolso da calça para retirar a chave, entre as chaves do escritório, a de casa e o abridor do portão automático, achou-a, pegou-a, ia retirá-la, algo a travou, percebeu que a mão não conseguia sair, achou que tinha engordado e a calça não dava mais conta de seu corpo da cintura para baixo.

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Clube dos Escritores 50+ José Carlos Peliano Medo do escuro/ Imagem criada por IA

#históriasparacontarparaosnetos
A luz do escuro, conto de José Carlos Peliano

A lâmpada acesa do corredor trazia seus braços até o aconchego da cama de Clarita dando-lhe a proteção diária de todas as noites. Temia o escuro e não dormia de outro jeito, de jeito nenhum, nem lhe oferecendo estórias, de Alice, da Caronchinha, de Saci, da Vaca Vitória, do Peter Pan, nem chocolate quente, televisão sobre a cômoda, um presentinho ou outro, bom de fato, ou sem fato, nada. Nada a demovia do temor de ficar sozinha no escuro da noite em seu quarto, mesmo protegida pelas cobertas ou seus pais, amigos, bichos de pelúcia.

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Clube dos Escritores 50+ Lourdes Gutierres Túnel

O túnel, crônica de Lourdes Gutierres

Lembrei-me do plebiscito da Noruega quando soube da construção de um túnel na Vila Mariana. Não há termos de comparação, afinal o que deu errado por aqui? Por que o povo é alijado de decisões que lhe dizem respeito? Penso na Ágora da Grécia antiga, mas isso também é sonhar demais, reconheço. Tapumes encobrindo o canteiro central da avenida Sena Madureira chamaram atenção dos moradores. Afinal o que está acontecendo, um vizinho indagando o outro. Descobre-se que um antigo projeto começou a ser implementado. Em meio à perplexidade, moradores resolvem organizar o protesto: não ao túnel.

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Clube dos Escritores 50+ Sylvia Loeb FLIP 2024

O festival literário e as pedras de Paraty, crônica de Sylvia Loeb

Cheguei em Paraty no segundo dia da FLIP, depois de seis horas de viagem, em um final de tarde chuvoso. As pedras brilhantes, arredondadas por séculos de tráfego de carros de boi, cavalos, burros e carroças causam admiração e temor. O conhecido “pé -de- moleque”, construído no século XVIII, durante o desenvolvimento do ciclo do ouro.

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Clube dos Escritores 50+ Carlos de Castro Coisinha eletrica?Imagem gerada por AI

#históriasparacontarparaosnetos
COISINHA ELÉTRICO, por Carlos de Castro

Era um tempo em que tinha mais mato, mais florestas, onde moravam muitos bichos. Tinha até bicho que os homens nem conheciam. É verdade! Era um tempo em que nem todos haviam sido inventados. Alguns bichos estavam em fase de experiência. É, e quando os bichos estão sendo inventados é muito importante que eles arrumem algum jeito para se defender. Uns podem virar uma bola, como o tatu, e também o pequeno tatu-bolinha. Outros tem casco duro como a dona tartaruga.

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Um dia, crônica de Bettina Lenci

O céu violentado de cinza esparramou-se nos meus pulmões, as partículas de violência alojaram-se na garganta e a respiração tornou-se curta. Sim, claro, em uníssono, a razão deste efeito devastador nos terráqueos é divulgada e aceita como suficiente: ninguém se mexe para impedir a queima das florestas! Eu não avisei? Dizem, após a exclamação. Mas por mais que esteja inclinada a colocar minha colher nesse caldo grosso de fuligem, não é este o assunto de hoje, tampouco a sustentabilidade do planeta, nem as ameaças de fim do mundo e menos ainda assumir como humana que a culpa é só minha!

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